51 - Garantias

         Há muito tempo atrás, ouvi: “se precisar, a porta vai estar aberta”. Saber disto bastou para seguir em frente; mas não fui conferir se estava mesmo, consegui dar conta das minhas coisas; embora muitas vezes tenha pensado: “será que está mesmo”? Freqüentemente lembro disto, como se ainda hoje, valesse. Foi um significante que ficou e que continua produzindo um efeito de acolhimento, como poucas vezes senti. Isto, agora, me faz associar com uma questão bem atual, quando contemplo “ as concorrências”, em todos os setores da vida, oferecendo garantias disto e daquilo e as pessoas buscando garantias nisto e naquilo. Garantia da qualidade dos produtos, garantia de funcionamento; garantia de cura; garantia de melhor educação, de sucesso no vestibular e de lugares de destaque no contexto social; garantia de que a tintura, a cirurgia, a lipo, a plástica vão nos deixar com melhor e mais atraente aparência; garantia de emprego, garantia de felicidade, de amor eterno e fidelidade; garantia de não sentir dor e por isto as anestesias, os medicamentos. Hoje aparece também o desejo de garantia de que os morros não irão desabar; enchentes, tsunamis, terremotos e a morte não irão nos surpreender. Muita gente ainda quer a garantia de um lugar no céu! Receitas e garantias povoam o cotidiano. Num primeiro momento como é fácil garantir qualquer uma destas coisas a alguém! Que felicidade para quem garante e para quem está sendo garantido! É tão grande o desejo de ter este poder, esta onipotência. Mas quanta leviandade e infantilidade! Porque tudo que aparece e se confirma é a nossa impotência diante das nossas próprias fragilidades e muito mais, ainda, diante da natureza, dos acontecimentos e dos outros, especialmente daqueles que amamos, quando a impotência dói mais. Nosso desejo de resolver, proteger, cuidar, curar, encaminhar, dar e fazer o que consideramos como melhor esbarra em muitas variáveis, uma delas, o arbítrio e o desejo do outro. Este aprendizado é duro. Por isto eu me aproprio e repito, porque cada vez acho mais bonito, maduro, justo, possível e real: “se precisar, a porta vai estar aberta”...

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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