Abandono

- Ai, gente!  - Exclamou meu filho, desolado e emocionado,  entrando em casa, com a camiseta suja de barro e um gatinho, de pelo avermelhado, filhotinho ainda, muito magrinho e sujo, nos braços. Na manhã chuvosa, voltava a pé, para casa, quando ouviu uns miados e assim encontrou o gatinho, abandonado dentro de um buraco, próximo à rodovia. Junto dele, um osso, todo roído! Disse que o gatinho tentava, em vão, sair do buraco, que era fundo e que provavelmente, se a chuva continuasse, iria encher de água. Não sabemos se vamos ficar com ele ou tentar encontrar um lar para ele (já temos três gatos); mas enquanto as coisas não se decidem, cuidamos dele! Banho, comidinha, lugar quentinho, seguro e muito carinho! E sigo pensando nesta malvadeza... Ela repercute forte dentro de mim. Abandonar já é algo terrível! Muita gente abandona animais nesta região, perto de nossa casa. Deixam dentro de caixas ou na rua mesmo. É horrível, mas neste caso, os animaizinhos ainda têm uma chance de encontrar alguém que os acolha... Nossos gatinhos chegaram assim, aqui em casa. Mas abandonar dentro de um buraco, é de uma crueldade extrema! É tortura! Deliberadamente eliminar ou dificultar ao extremo, todas as chances do bichinho buscar alternativas de sobrevivência... Meu Deus! Quanto abandono! Quanto abandono! Animais, gente, crianças, jovens, doentes, idosos... meio ambiente! Educação, saúde, direitos, deveres, justiça, valores, ideias, ética! Por vezes, dá um desânimo! Dá medo! Não este medo da violência que assola o cotidiano perto e longe. Medo maior. Medo de que como  humanidade não tenhamos mais jeito! Tão bom seria culpar alguém e pronto! Encontrar um culpado para todas estas dores, abandonos e desrespeitos. E culpando, tudo se resolvesse. E não houvesse mais abandono de nenhum tipo... Enquanto não encontro quem apontar, o tempo passa... e de repente ouço uma melodia, vejo um arco-íris, leio uma poesia, observo jovens se encantando e defendendo ideais, recebo um carinho, vejo os olhos dos alunos brilhando falando de amor, de respeito, de justiça, de Brasil; escuto uma “vozinha” doce chamando “vovó”... e então uma chama reacende! E de novo quero acreditar nos encontros e na possibilidade de dias bons para todos.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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