Margem, bordas e costuras

A carinha triste estava lá. Eu a flagrei por entre os transbordamentos, faceirices mal contidas dos pequenos grupos espalhados pela sala de aula, no final da sexta-feira ensolarada, depois de tanta chuva... Poderia não ver, mas vi. A imagem ficou recortada e aquele olhar desmanchado me convocava. Tão linda, tão estudiosa, tão madura na fala, na compreensão e processar das ideias, na reflexão sobre o que vê... tão criança, ainda e, já experimentando tamanhas agruras! Não que os outros não tenham as suas! Alguns, até maiores. Mas ninguém exteriorizando e sofrendo como ela. O que faz com que alguns experimentem esta fragilidade na interação com o outro? Sintam-se “menos” e, de alguma forma, apesar de todos os predicados, sejam, em alguns momentos, excluídos do grupo; ou tenham esta sensação? O que faz com que alguns sejam tão populares, que mesmo não estando presentes, se fazem presentes, impondo sua singularidade e vontade? O que faz com que alguns não se importem com popularidade, se bastem e não se ocupem com o fato de estar ou não sozinhos ou num grupo e, circulem com tranqüilidade aqui e ali, sem prender-se a um e outro? E outros, como ela; articulados em tantas coisas, menos nesta, sentindo-se e sem querer (querendo), colocando-se à margem?  O quanto é preciso que me envolva? O que é possível mediar? O que é urgente pontuar para um e outro; uns e outros, neste sentido, dentro de um grupo?  Meu olhar abraça todos. Não posso permitir a discriminação, o preconceito, a malvadeza. Mas preciso respeitar as escolhas, os sentimentos, as preferências. Preciso ouvir e desafiar o pensamento, a reflexão; sensibilizar para a percepção do outro. Mas, antes, para a percepção de si mesmo... foi o que fiz. Acolhi seu choro, sua fala, suas queixas. Não minimizei nada. Agradeceu e me deu um abraço apertado antes de ir embora. Na semana que vem, a lidança continua.  E a responsabilidade aumenta no sentido de que não posso ficar omissa ou apenas “olheira” ou  ouvinte. A “costura” (como diz minha diretora) entre os discursos, argumentos e questionamentos;  poesias, leituras, escritas e reescritas (conteúdos de minhas aulas) terá que ser delicada e bem feita, cuidando e trazendo “à tona” estes pensamentos e sentimentos. O grupo merece crescer. Educar é muito sério e trabalhoso. Não  começa e nem acaba com o expediente; mexe  e remexe profundamente com a vida da gente, o conteúdo da gente.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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