Mágica


- Profe, é verdade que você sabe fazer mágicas? –pergunta um aluno, ansioso.
- Verdade que você sabe fazer desaparecer uma moeda? – pergunta outro,  olhos brilhando de curiosidade.
- Quem contou isto para vocês? – pergunto, surpresa!
- Ah! Foi a profe de matemática e a teacher... você sabe, mesmo, Maisa?
- Bom, faz tanto tempo que não faço mais, isto! Da última vez, meu braço ficou doendo por meses... então decidi não fazer mais... até porque estou ficando mais velha e isto pode não fazer bem para minha saúde.
- Então você faz! Conta pra nós o truque! Mostra como se faz! Mas por que dói?
- Dói porque eu não faço a moeda desaparecer e aparecer em outro lugar. Eu faço a moeda entrar dentro do meu braço. Mas não sei fazer ela sair do braço, depois! – argumento, observando seus olhos brilharem ainda mais, de curiosidade! Coisa linda!
- Ah! Conta o truque! Sim, porque isto é um truque, né?!
- Está bem, na nossa próxima aula, quinta-feira, eu me preparo e tento fazer a mágica. Só não sei se vai dar certo, porque, como disse, há muitos anos não faço, não tenho praticado. Mas vou tentar. – prometo ao grupo do 5º  ano.
        Nossa! A expectativa era grande! Às  7h30 da manhã de quinta, entro na sala de aula e já estavam prontos para assistir a minha apresentação. Joquei, então, o balde de água fria:
- Agora vamos trabalhar; temos muitas coisas para fazer! Depois do lanche, temos mais uma aula e então eu faço a minha mágica e cada um também pode fazer /apresentar as coisas “diferentes” que sabe fazer!
Claro que não gostaram de esperar; mas adoraram a ideia de também mostrar tantas coisas que sabem fazer... o tempo passou voando e a conversa fluiu, mais do que nos outros dias; mas não prejudicou a produção de texto; estavam se divertindo com a produção de limeriques, nos computadores.
        Depois do lanche, lá estava eu, na frente do grupo outra vez, mas uma personagem diferente: o de mágica! Todos sentados, olhos fixos em mim, curiosos, desconfiados; atentos para descobrir o meu truque: onde eu iria esconder a moeda de R$ 0,25! Sim, porque de R$0,50 ou de R$1,00 doeria demais!!! Será que a professora sabe fazer um truque destes? Não, né?!!! Ou sabe?!!! E será um truque?!!! Hum....
        - Bom, gente... agora, concentração, porque eu preciso me concentrar! Se vocês não colaborarem, não consigo a concentração suficiente para fazer a moeda desaparecer, ou melhor, entrar no meu braço! – Falo, muito séria e compenetrada; mas de um jeito diferente do que já conhecem.
        Silêncio total, olhos fixos. Ninguém se mexe. Eu entro no meu personagem e começo a friccionar a moeda no meu antebraço esquerdo. Por três vezes, ela escorrega, cai em cima da mesa. Eles ficam decepcionados!
        - Ela não vai conseguir! – expressa um.
        - Fica quieto! Ela vai, sim! – afirma outro.
        Eu prossigo. Entre caras e bocas, aumentando a fricção, de repente... a moeda some!
        - Cara! Onde foi a moeda? – diz um, muito surpreso; entre as demais exclamações!
        - Não acredito! – sacode a cabeça, um dos incrédulos!
        E nada da moeda estar embaixo da mesa ou da toalha, porque tive o cuidado de não deixar nada onde pudesse esconder a moeda, à mostra. A mesa não tinha toalha. Eu estava de camiseta de manga curta; então não tinha como escondê-la na manga. Estava com o cabelo preso, não podia esconder atrás das orelhas ou no cabelo... e, no chão não estava! Eu sacudia meus braços e nada da moeda cair ou aparecer! Eles, de repente, ficaram sérios. Como  podia ser isto? Queriam que eu contasse o truque. Eu não respondi a isto e comecei a expressar a dor que sentia no braço. Vieram colocar a mão no lugar onde a moeda desaparecera e constataram que estava um pouco “duro” e “meio roxo”. Daí, esqueceram do truque e ficaram preocupados com a minha dor.
        Mudei o rumo:
        - Agora, quem quiser fazer alguma demonstração do que sabe fazer, venha aqui na frente. Eu também quero ver!
    Foi uma sequência bonita! Interessantíssima! Demonstrações de habilidades singulares: um arroto diferente, grunhidos estranhos, estalos com a língua, mexer as orelhas; mexer as narinas; entortar dedos pra lá e pra cá (fan-tás-ti-co!); colocar a mão inteira dentro da boca; movimentar o abdome; entortar os braços... gente! Fiquei admiradíssima! Assim como eles em relação a mim!
        Nos demos a conhecer de outro jeito! Coisa linda! Quanta coisa a gente não sabe que o outro sabe! Quanta coisa a gente não sabe, que sabe! Assim passou a quinta...
        Mas na sexta, a pressão voltou:
        - Maisa, a gente procurou na internet; lá diz que você deve ter escondido a moeda embaixo do cotovelo! - afirmou um aluno.
        - Capaz, cara! Ela erguia o braço, não tinha nada embaixo... – retrucou o colega ao lado.
        - Meu pai disse que você deve ter escondido a moeda na manga da camiseta. – Continuou um menino lá do fundo da sala.
        - Que viagem,  cara! Você não falou pra ele que a camiseta dela era de manga curta? Não dava para esconder nada... a gente ia ver ela erguendo a mão para esconder...
        Não respondi nada a respeito; apenas comentei sobre o quanto meu braço estava doído. Elogiei a partilha com os  pais, a pesquisa; o interesse; a curiosidade.
      Com certeza, alguns deles, vão continuar, por um longo tempo, perguntando, pesquisando; tentando encontrar uma explicação racional, para o fato. Outros, simplesmente aceitam o fato, admirados, encantados com ele; com esta possibilidade do possível impossível. Eu faço parte deste grupo. Não quero uma explicação sobre o que é uma estrela. Adoro vê-la brilhar! Não quero saber por que amo. Simplesmente, amar! Não quero definir a poesia; apenas sentir a poesia, fazer poesia... Não quero uma explicação sobre as mágicas ou magias; saber qual o truque. Quero apenas sentir seu efeito e me encantar com as possibilidades, com as habilidades, a criatividade, a emoção! Não conseguirei, nunca, definir o que sinto, sempre que vivencio esta experiência; percebendo, ao mesmo, tempo, o que se passa dentro de mim e o que se passa com cada um destes, queridos, me olhando, admirados! A vida é tão bela também sob este ângulo!!! Ah, como é bom experimentar estes momentos deliciosos de encantamento espontâneo, gratuito!  E o melhor deles: acordar, todos os dias! 

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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