151 - Os gatinhos não!

    A mulher chamou-me e gritou, de longe, nem um pouco preocupada com os ouvintes, com a deseducação, falta de respeito e num tom grosseiro, ameaçador:
     -Vou matar os teus gatos!
     - Mata! – respondi, no tom mais seco que pude produzir; fingindo indiferença, dando-lhe as costas e negando a oportunidade de listar motivos, se é que ela os tinha.
     Segui meu caminho. Não foi a primeira vez que ela os ameaçou. Meu coração fervia de raiva, mágoa e indignação. Acho que é sempre assim com aquilo que fere a gente no sentimento, no afeto que se dedica a algo, alguém que, de repente é colocado na berlinda, questionado, criticado; ainda mais quando eles são indefesos. Mas o que fazem meus gatinhos que não coisas de gatos? E com tanto gato na vizinhança, como ela sabe e tem certeza de que são eles a fazer algo (eu não quis saber o quê por causa do tom grosseiro dela). E por que pensar logo em matar? Meus gatos saem da varanda somente à noite e realmente não sei por onde andam. Mas isto é coisa de gato. E há noites que nem saem, ficam ali, enrodilhados, me observando trabalhar ( e eu fico até tão tarde trabalhando...), atentos aos meus movimentos... muitas vezes outros gatos entram no pátio e o Sig, o valente Sig, não sossega até que não expulsa o visitante curioso. Por vezes dão uma saidinha e voltam com um sapinho, uma borboleta, um passarinho, até um ratinho já vi! E, mais, lagartos e cobrinhas pequenas!!! Trazem o bichinho pra varanda, pra mostrar e brincar. Coisas de gato! (cobra não sabia que eles pegavam! Mas o Sig pega!) Voltei, logo que pude, para casa e com alívio vi meus gatinhos fazendo um soninho! Seguros, entregues, confiantes. Eles nem imaginam que têm uma inimiga. E nem posso protegê-los.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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