155 - Guaranis

        Numa determinada época da adolescência, ganhei de presente de um tio, que era representante da livraria e editora Globo, de Porto Alegre, uma coleção das obras de Karl May. Eu me apaixonei pelas histórias, aventuras fantásticas, especialmente aquelas ocorridas entre os índios norte americanos, Apaches, Sioux, Cheyennes, Navajos, Comanches e outros. E pelo índio Winnetou! O cacique apache! Um guerreiro como poucos; corajoso, altivo, generoso, justo, fraterno. Observador; homem de poucas e inteligentes palavras, franco. Tocou-me profundamente a vida, o olhar, a atitude, os valores indígenas ali retratados ficticiamente; e isto valeu para capturar o meu olhar, minha sensibilidade e admiração para com os povos indígenas a partir dali. E hoje, após tantos anos de enamoramento, finalmente estive em uma comunidade indígena guarani; numa excursão com um grupo de alunos. Valores, jeitos de viver, de ver, fazer e ser muito diferentes dos nossos. Impressionou-me a “casa de reza”; um lugar onde os alunos da escola iniciam e encerram o dia. Uma choupana, coberta de palha, chão batido, alguns troncos e bancos de madeira dispostos em círculo, ao redor do fogo. E bem ali, ao redor do fogo vivo, envolvidos por uma fumaça tênue e por uma história secular inscrita nas paredes (desenhos) e na energia do local;  ouvíamos, silenciosos (num silêncio que nunca vi meus alunos entrarem) as palavras do vice-cacique. Palavras econômicas revelando esta que parece ser uma característica dos índios: pouca fala, olhar observador e intenso, sempre atento ao momento presente. Ele falou, apesar disto, de muitas coisas e as especiais para mim foram aquelas sobre a interação e respeito profundo, na comunidade, entre crianças, adultos, jovens, animais e plantas e, que isto que se aprende em casa, primeiro. Eles olham e vêem! Vêem o outro; vêem os animais, vêem as plantas e interagem e respeitam. Têm paciência e tempo para o que é essencial. Isto é muito grande, muito bonito. E, para muitos, na nossa vida atribulada, cimentada, fragmentada e consumista, algo distante e impossível, impraticável. Tanto para aprender, ali; com pouca coisa...

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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