regresso (2)

A chegada, ontem à tardinha, foi com chuva.

Hoje, o dia amanheceu sorridente! O sol chegou dourando tudo; abraçando e aquecendo a gente! O frio é intenso! Ele gruda na gente e não larga! Entra pelos poros e gela dentro e fora! O sol e o fogo miniminizam; mas não eliminam. É tempo do frio e não adianta. Melhor é se entregar de vez e conviver com ele. Respirar e acolher suas carícias ininterruptas, até encontrar um conforto... caminhar com eles: o frio e o sol. De repente, a parceria fica boa! Com eles, reencontrei, revi minha cidade. Fui ao encontro de minha saudade.
Tentei dialogar, mas a cidade não me reconheceu. Agora sou vovó. Quando saí, era mãe de filhos pequenos. Estou diferente. Muito. A cidade também. As árvores da praça, mais viçosas, grossas, sábias.
O Ruizão, totalmente transformado! Entrei e não encontrei nada como o deixei. Perguntaram-me: quando esteve aqui? – Entrei em 1970, respondi... Muito tempo... muito. Destruíram o prédio de madeira! Mas preservaram as árvores!
 E elas me trouxeram as falas do professor Beno, de Espanhol: “Adelante...”; da professora de Ed. Física, Dircema: “pega a bola, bibelô...”; da gente cantando no coral da professora Maria Helena... dos preparativos para os nossos teatros... do grupo do Grêmio Estudantil, preparando o jornal... dos desfiles maravilhosos de 7 de setembro... das paixões platônicas e dos escritos sem fim nos diários... dos dias de chuva, indo pra escola de galocha, capa e guarda-chuva, fazendo festa caminhando nas poças d”água... das festas, reuniões dançantes nas casas de uns e de outros colegas; daqueles ensaios de aproximação; da timidez, da vergonha, das mãos trêmulas que mal se tocavam, na dança... da grande expectativa de encontrar o amor e de como isto seria!
A casa da infância, adolescência e juventude. Tão diferente, tão mal cuidada, agora que a família não está  mais ali... Mas o "chorão" ainda está lá! Só que muito mais alto! E esta garagem.. não era dali...

A escada também permanece. Onde eu costumava  sentar e de onde olhava o mundo, especialmente o interno e debruçada, escrevia, escrevia...
A casa onde nasceram meus filhos...  a cabana da vó... E o coqueiro! Cresceu solitário e ali mantém-se firme, resistente.
Sentimentos fortes e desencontrados, palpitantes ... a casa ainda repleta de nós...
Saudade de  irmão! Quanta!
Por onde a vida nos levou? Eu fui embora e outra vida começou para todos nós. Como a gente faz, quando volta e não se encaixa no lugar que é seu, mas que não lhe serve? Lacunas do não vivido, não podem ser mais vividas. Só amor se encaixa. Em qualquer cantinho, qualquer espaço, ele se encaixa, se adapta, se molda. E recomeça de onde parou.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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