Casa da vó


A “casa da vó”, agora, é a minha. A avó, agora, sou eu! ...Um dia, foi a casa da nona Virgínia (minha avó materna italiana) e a casa da vó Aurélia (paterna, alemã). Na casa da nona Virginia havia cadeira de balanço, chá de mate, polenta e conversa alta, riso solto... e um pé de romã! Eu me encantava com ele e com a fruta que produzia! Nunca mais eu vi um pé de romã... A nona era um pouco triste... Mas havia o nono!  Que contava “causos e causos” de “dantestempos” (que eu adorava ouvir!), balançava e atirava a cabeça prá trás, rindo sua gargalhada gostosa! Na casa da vó Aurélia, havia mais silêncio... a vó era séria. Costurava e fazia um “chiadinho” que me intrigava e encantava ao mesmo tempo... Ela me ensinou fazer crochê! Tinha sempre por perto umas revistas; eu era curiosa e ela me dizia que eram histórias, romances escritos em alemão. Tinha sempre um doce para oferecer! O vô era tímido e amoroso; gostava muito da gente; fazia cavalinho com as pernas cruzadas! A gente adorava! Os natais e finais de semana eram geralmente passados na casa deles. O tempo passou e a casa da vó passou a ser a casa dos meus pais: o vô Ico e a vó Ica (assim “batizados” pela minha filha, a primeira neta)... A vó Ica, (na verdade Ottilia), trabalhadeira, literalmente uma formiguinha; prestativa e cheias dos horários e regras! O vô Ico, uma figura rara, rara! Invariavelmente, os domingos eram momentos de encontro ali, na cozinha (nos dias frios) ou embaixo da parreira (nos dias de calor). Sempre a reunião em torno da comida: geralmente churrasco, salada; ou  carreteiro, lazanha, arroz de forno, “galinhada”... e aos doces da vó; nunca de um só tipo! E tudo regado a muita conversa, confidências, “lacaices”, ao riso frouxo e amoroso do Cuti, aos tons exagerados e hilários do João ( “rei da Glória”), às falas ponderadas do Marco; (meus três irmãos queridos), às  nossas recordações da infância, planos para o futuro, troca de pontos de vista... eu não sei como meus irmãos me viam no contexto, mas adorava e ainda adoro vê-los (quando isto se faz possível), ouvi-los nos seus posicionamentos e me chamarem de “Tata”! Ainda sou a “Tata” e isto é melodia aos meus ouvidos... Olhando para minha mãe\vó, toda esmerada, cheia de tempo e regalos para os netos, eu pensava: “não serei uma vó como minhas avós e nem como minha mãe, quando chegar minha vez...! Não sou habilidosa nos quitutes! Terei que descobrir um outro jeito de ser avó”... Agora, já chegou minha vez: sou a avó! É na minha casa que os encontros dominicais acontecem. Nem sempre com  todos, mas no mínimo com dois dos meus três filhotes queridos, queridos!!! Na casa da vovó Maisa tem historinha, tem cantoria; tem muito abraço e beijinho; tem muita árvore, muito verde, balanço, passarinhos, peixinhos e gatinhos e  de quando em quando, outros bichinhos do mato...  E quando a Maria e outros netos (que por feliz ventura, um dia vierem) ficarem maiorzinhos, encontrarão giz de cera, muito papel e lápis para desenhar, pintar e escrever!!! Mas fiquei pensando que isto não basta! Vovó parece que tem que saber fazer uma comidinha gostosa! Na casa da vovó parece que tem que ter aquele cheirinho aconchegante que vem do fogão... Então estou me esmerando! Nas sopas! No refogadinho de legumes! No arrozinho integral, na lentilha e no feijão. E, na canjica!!!!  Acho que dá para começar! Ninguém está reclamando! Pelo menos, de quando em quando, isto se torna um regalo!!!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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