As filhas do nono e da nona (II)

     


          O nono e a nona tiveram nove filhos: cinco mulheres e quatro homens. Uma história bonita e valorosa: a que viveram juntos e depois, a que cada um construiu e escreveu com sua própria família e, que  agora, continua  através de nós, nossos filhos, netos...
     Aprendi, pelo olhar, sentimento e  relatos de minha mãe e também convivendo, a admirar muito os tios, homens trabalhadores, que deixaram  belos exemplos para os filhos e todos nós.
     Por ser mulher, minha identificação e observação maior foi direcionada a elas, às filhas do nono e da nona; por quem  tive e nutro grande afeto. 
      Na foto, faltam duas (precisamos reuní-las para fazer uma foto oficial): uma tia que mora numa cidade ao lado e outra tia, queridíssima, que está muito enferma. Aparecem apenas três: minha mãe e duas tias.
         Sempre admirei a cumplicidade destas cinco irmãs e sonhei muito em ter uma irmã para dividir a vida, como elas. Mas não tive. Na infância, eu gostava de ir com minha mãe na casa da nona ou de uma e outra tia, semanalmente, para o “mate”, quando também encontrava algumas primas e primos. Estes, eram muitos. Alguns mais velhos, estudavam naquele turno ou trabalhavam e, assim, não nos encontrávamos tão amiúde; mas a quem, nós, os menores, olhávamos com admiração. Também visitávamos, com certa frequência, a casa da tia que morava na cidade vizinha, em finais de semana ou nas férias, o que era um grande acontecimento!
     Além de brincar, eu, particularmente, nestes encontros, adorava observar que enquanto o mate ou o chá-de-mate girava, junto com as bolachinhas, cucas, bolos ou calça virada, a vida era atualizada. E elas, minha mãe e as tias, riam muito e também se queixavam de coisas que não lembro. Eu lembro apenas da sintonia, do calor e de como era bom ficar ali, entre elas, ouvindo o que não entendia, mas que intuía ser do universo feminino; feito de sutilezas, muito trabalho e da alegria que elas extraíam da sua rotina de labuta, dificuldades, limites, sonhos, expectativas. Estas sutilezas eu assimilei. Elas ficaram registradas no mais fundo de minha alma e em vários momentos e fases da minha vida, vieram à tona. Pude compreender, transformar e amadurecer graças a elas. Mulheres trabalhadeiras, caprichosas e peritas na arte do asseio da casa; do passar uma roupa, lavar uma calçada, preparar um mate; fazer uma comida gostosa; um doce mais do que doce!  E ainda, na arte de ocupar-se com os filhos, os netos; acolher uma a outra... Cada uma, a seu modo, agindo e reagindo diante da vida e suas demandas; fortes, talentosas, jeitosas, belas; com uma elegância natural.
     O tempo passou. Distâncias geográficas se instauraram, mas quando eu as reencontro, o afeto e a conversa fluem como antes.    
     Queridas mulheres formidáveis!  Que com o pouco, sempre fizeram muito; extraíram essências;  seguiram em frente, nem sempre acertando, nem sempre agradando; mas "segurando pontas", feito rochas, porto seguro, abrigo... Eu reconheço e vejo vocês (e o que não alcanço ver, intuo) e todo seu brilho, toda sua beleza, sua generosidade e todos os seus feitos cotidianos (uma lista longa que sai do anonimato na medida que aprofundo o olhar) dedicados, na gratuidade, aos seus queridos e a tudo que seus corações elegeram como valor. 



         


 

2 comentários:

Cuti disse...

Fantástico !!!!!! Parabéns Tata !!!!
Bem assim ...........
Saudades !!!!!!!!!!
Grande abraço ......
Cuti.

Maisa Schmitz disse...

Elas são mesmo, muito!!! Obrigada "mano véio", querido!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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