Férias engarrafadas

       
       O engarrafamento parecia grande.
- Ô seu guarda! Como estão as coisas?
- Ah, meu amigo... umas três horas para fazer estes 15 km e entrar na BR 101!
Bah! Três horas era muito. Resolvemos voltar para a casa dos parentes e tentar regressar a nossa casa, mais tarde da noite.
Três horas depois, nova tentativa. Mas já não foi possível chegar, de carro, até o posto da polícia rodoviária. O engarrafamento estava visivelmente maior. O jeito foi caminhar até lá... saber alguma coisa...
- E daí, seu guarda, como estão as coisas?
- Pior, como está vendo! Umas seis horas, agora, para fazer os mesmos 15 km até a BR...
Ah, não! Seis horas não ia dar para agüentar!
- Olha, se vocês tiverem onde dormir, melhor voltar e tentar amanhã bem cedinho... o pior é que os hotéis estão cheios... – completou o guarda rodoviário.
Sim, tínhamos a casa dos parentes, dos quais já havíamos nos despedido por duas vezes naquela noite! O jeito foi voltar, “desasados”. Passar a  madrugada dormindo sentado dentro do carro seria uma péssima opção para marcar estes primeiros dias do ano novo; especialmente para nós quatro, de cinqüenta, sessenta, setenta e oitenta e poucos anos (eu, meu marido, minha mãe e meu pai) respectivamente...
Os parentes, é claro, nos acolheram! Conseguimos chegar em casa no dia seguinte, não sem antes “engarrafar” por uma hora e meia, naquele mesmo trecho.
De lá para cá, tenho pensando muito e muito no ocorrido... Ficamos literalmente prisioneiros naquela noite, em Itapoá, SC. E sem celular e sem internet para comunicar o ocorrido aos familiares que estavam nos esperando, em BC. Como é que pode? Minhas férias são em Janeiro e não posso me deslocar de onde moro para ir onde desejo e quando desejo: visitar pessoas, lugares, ir ao supermercado que gosto, ao centro da cidade, etc; se não sair de madrugada ou no horário que o “trânsito” permitir e voltar muito tarde. Ao supermercado, por exemplo, que fica sete\oito quadras de minha casa, tenho ido entre 1h00-2h00 da manhã; porque nesta época do ano, atendem vinte e quatro horas... Tenho que escolher: ou me submeto a isto, ou fico em casa ou perco parte do tempo\dia no engarrafamento. Foi então que me ocorreu, numa tentativa de adaptação ao que os “novos tempos” sinalizam;  criar uma nova opção de lazer: engarrafar nas férias!
Assim, ó: a gente combina e programa: “vamos engarrafar”? No lugar de piquenique na praia ou na beira do rio;  piquenique nos acostamentos. Em vez de caminhar\correr\andar por trilhas verdinhas ou na areia, ou na ciclovia; fazer isto por entre os carros enfileirados. Abrir cadeiras e pegar um bronzeado, aproveitando o sol a pino e o seu reflexo na lataria dos carros. Para quem não quiser o sol, fixar guarda-sóis entre os carros e bater papo, tomar chimarrão, comer bolachinha ou comprar quitutes que são oferecidos pelos quiosques improvisados na beira das estradas. Levar garrafões com água, para um banho refrescante a cada pouco, como se fosse um banho de mar ou rio, ou piscina. E, ainda, brincar de jogar água, umas famílias nas outras; fazer uma “guerra de bexigas”; o que refresca e descontrai, canaliza a raiva (se ela aparecer). Também outros jogos como: “queimada” (com uma bola bem levinha para não quebrar os vidros dos carros);  “bola na cesta”... até um bailão dá para fazer entre os carros e no acostamento!  Excelentes “pedidas” para estabelecer e estreitar laços socio-afetivos neste novo contexto.... 
Estava “me divertindo” com a ideia até que minha cunhada lembrou das “ondas de assalto” nos engarrafamentos. Nossa! Minha ironia perdeu feio para o pessoal do “Mal”, ligeiro na organização, criatividade e agilização do seu fazer; inviabilizando, ou praticamente, desacreditando o meu, por antecipação. Mas só por um momento; porque o pessoal do “Bem”, onde me incluo, não esmorece! Muito mais criativo e perseverante!  Vamos encontrar alternativas.


 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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