Artistas disfarçados

São muitos os instrumentos de um artista... argila, madeira, metal, papel, tecido, tinta, espátula, martelo, lixa, torno,  pincel, tesoura, cola, lápis, giz, notas e instrumentos musicais... Com eles cria obras bonitas, que encantam, enfeitam, inspiram lugares, pessoas, momentos... a vida! No cotidiano, se observamos bem, descobrimos artistas desconhecidos como tal, em todas as áreas, utilizando outros instrumentos; igualmente produzindo belezas, mas  disfarçados de professores, construtores, mecânicos, médicos, jardineiros, cientistas, vendedores, enfermeiras, cozinheiros, dentistas... Estes, os disfarçados, têm olhos especiais e uma sensibilidade viva e fazem do seu trabalho, uma obra de arte! Eles riem, se ocupam e são felizes com o que fazem.  E se dedicam e também sofrem porque querem e esperam algo mais do que prestar um serviço e receber um valor por ele e muitas vezes são criticados, impedidos, banalizados, incompreendidos justamente por não se limitarem a fazer o que têm que fazer... Mas é que estão disfarçados de profissionais, lembra? Eles querem um pouco mais do que só fazer o seu ofício! Gostam de ver um  trabalho bem feito; muito mais do que bem feito: perfeito! Exigentes e perfeccionistas como de fato, são os artistas. E como todo artista, estes, os disfarçados, olham e vêem possibilidades e beleza onde outros não vêem e não acreditam! Vêem a beleza latente, escondida. Vêem o que pode vir a ser! E eles se dedicam para que o trabalho fique como o têm na sua imaginação, no seu desejo. Não se preocupam muito ou não se preocupam quase nada com o tempo; se é noite, dia; se é segunda ou se é domingo; dia útil ou feriado. Mas sentem cansaço; porque tudo tem um preço. Também desanimam, se irritam, se questionam sobre o porquê fazer e por vezes relaxam, pensam em fazer menos, se ocupar menos; fazer só o trivial. Mas há um chamamento inquietante, pulsante de fazer, de procurar, de transformar, descobrir “algo mais”! Apreciam cada etapa do trabalho, se deliciando com o processo! E se deleitam contemplando o trabalho concluído e gostam de ser  por ele recompensados por um salário, um valor e muito, muito mais pelo brilho de felicidade, valoração e reconhecimento do outro e pela satisfação pessoal, interna e por vezes inominável de se descobrirem capazes de contribuir colocando mais beleza, saúde, alegria, bem estar, conforto, novas possibilidades de vida, na vida! E, naturalmente, sempre considerando que ainda poderiam melhorar uma coisinha aqui, acrescentar algo ali, dedicar mais um tempinho lá... olhos curiosos, brilhantes, exteriorizando parte de sua alma sedenta e generosa, que cuida, quando a maioria só quer ser cuidada.
          Conheço muitos! Já recebi tantos cuidados, em tantos momentos... e sou profundamente grata.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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