Rotina?


As aracuãs sempre voltam. Todas as manhãs, cedinho se encontram na bananeira ou perto dos palmitos. Ali fazem um alarido! Combinam algo e saem, escandalosas! Perco-as de vista antes de perder o rastro da sua cantoria... Todos os dias. Rotina. Todos os dias, à mesma hora, Chanson, Roxo, Preto e Sig, os gatinhos, se a ração não está nos potinhos, vêm à janela ou à porta, chamar por um de nós; miando sua queixa, cada um do seu jeito; naturalmente, Sig, mais “reclamão” do que as gatinhas; que miam cheias de charme e “manha”. Depois fazem um soninho. Rotina. A tireóide também reclama uma rotina, que eu acorde sempre meia hora mais cedo para tomar a medicação.  O relógio não para; não importa se é férias. Hora do almoço. Hora disto e daquilo. No sentimento, nas reações, também a rotina, a repetição. Se elogiam, a gente fica contente; se criticam, ficamos, no mínimo mexidos... e tudo se repete e repete, com pequenos detalhes inovadores; umas “roupitas” diferentes. E eu sempre me imagino numa grande roda gigante. A vida, uma roda gigante. Dizem mesmo que todos estamos presos, atados à roda do “samsara”... Sentada na "minha cadeirinha", eu me arrisco, porque tenho fobia de alturas (herdada do meu pai. E me arrisco porque sou teimosa, ariana teimosa! E se a gente não se arrisca, vive?) e me sinto realmente girar (viver) nos movimentos da roda; por vezes girando lentamente, por vezes tão veloz que  quando me dou conta, já é segunda-feira, novamente! Às vezes a roda para em cima, embaixo, no meio... alternando, também, minhas emoções, estados de ânimo, atitudes... de acordo com a situação que me espera em cada parada. Altos de alegria, sobressaltos de felicidade, de ficar sem fôlego, paralisada de emoção (e, por vezes, de medo, medo de ser feliz!); encantada por demais! Baixos de impotência, desilusão, inércia, medo (de agir), insegurança e culpas. E tempos de estabilidade, nem lá e nem cá... em paz, até mesmo com as impossibilidades. Muitas vezes, a cadeirinha ao lado, vazia; tempo de quietude ou solidão mesmo. Por vezes, senta alguém qualquer, não interage e não acrescenta. Por vezes, alguém que mexe e estimula todos os medos, raivas e todos os “ismos” que levam para baixo. Por vezes, alguém que toma minhas mãos, que partilha; olha junto, dá um abraço, eleva. Rotina, dentro das alternâncias, das “giradas”.  Mas... inusitados ocorrem! Sempre que eu permito.  Posso fechar ou abrir os olhos. E quando escolho ver, abrindo os olhos, não do jeito normal, mas abrindo mais e mais... e um pouquinho só mais “adelante” da superfície, do primeiro plano, encontro o encanto! Aí, não tem rotina. Tudo é novo, sempre primeira vez.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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