Descoberta!


Quem gosta de ler e de escrever; adora ver os outros lendo e escrevendo! O trabalho me oportunizou este prazer imenso e sempre renovado de acompanhar o processo de alfabetização de inúmeras crianças, inclusive dos meus filhos. É muito especial. Ver os caminhos similares e\ou singulares que cada um percorre para  se apropriar dos códigos, associar letras e sons (e isto não é tão fácil como parece!)... como criam hipóteses, formulam idéias, elaboram e refinam o pensamento neste trabalho! E desenvolvem inteligência! E curiosidade! E desejo de aprender!... se permitimos que continuem pensando, indagando, experienciando! Nesta semana, retomando o trabalho, depois das férias, avaliava uma menina de 4 anos. Um presente! Depois de investigar questões lógico-matemáticas deixei que explorasse o espaço, o material e o caminho aberto para a conversa que fluiu sem parar e interessantíssima! “Vou desenhar...” – disse e desenhou três pessoas com traços básicos: cabeça, tronco, membros e dois olhos. Três mulheres: “ a mãe, eu e você”... “não podia deixar de desenhar você, pois está aqui comigo, agora...”. Fofa! Daí, resolveu que ia fazer contagem de numerais e foi contando até 49... “Parei! Só sei até aí!... não sei mais”. Quis escrever. Então desenhei um elefante. “É com “e”, falou. Eu pedi que registrasse. Ficou em dúvida: “como é o “e”?. Queria que eu dissesse. Eu disse que pensasse e fizesse como achava que fosse, sem problema. Ela pensou e registrou B ao lado do elefante. Me olhou, eu não disse nada; o combinado era fazer como pensava que fosse. Fomos adiante e associou corretamente as outras vogais aos desenhos que propus. Como estivesse motivada, desafiei: “do que você gosta de brincar? Prontamente respondeu: “de escolinha”. Eu disse: “então escreve esta palavra, aí, como você pensa que se escreve” . Voltou-se para o papel, posicionou-se e pôs-se a pensar alto: “ e...es..e...es” – ficou em dúvida; acho que lembrou da questão do elefante, acima! Pediu ajuda: “me diz como é este “e”...”. Eu disse: “olha ali o alfabeto... Observa, pensa e escolhe uma das letras...”. Ela olhou e logo disse: “é aquela ali”  e foi pronunciando as unidades sonoras: “es – co – li – nha...” e registrando uma letra para cada uma, tranquilamente: “EOIA”. Naquele momento descobriu o E e descobriu que “podia escrever”! Vi o brilho da compreensão, da descoberta nos seus olhinhos! E foi escrevendo tudo que eu sugeria, silabicamente: “ UIA (“furmiga”) ;  AIA (casinha); OEA (boneca)...”. Queria escrever mais e mais. Eu tive que sugerir que fizéssemos outra coisa. É que nós adultos, nestes momentos, “fervemos” de alegria... por dentro! Mas não dá para deslumbrar, pressionar! Tá bonito assim! Para que a pressa?! Ela quis finalizar: “quero escrever mamãe”. Pronto, pensei! Agora vamos ver como ela vai se sair para representar os sons nasalisados ... ela pensou, pensou... olhou pra lá e pra cá... e para mim,  mas não pediu ajuda; pronunciou a palavra inúmeras vezes, alto, baixinho; como se estivesse mastigando-a para sentir e descobrir o sabor! Até que registrou e justificou: “AIII (“acho que tem três “is”: mamaiii”)... Ganhou um beijo! Levantou e foi brincar com as outras crianças. Feliz! Este é o prazer, a alegria, o que alimenta o nosso amor pelo trabalho: redescobrir as coisas! Inventar tudo outra vez pelo olhar, pela lógica, pela palavra deles. Assim o encanto, na gente, permanece. Sempre recomeçando ou começando como se sempre fosse a primeira vez. 

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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